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WERBETH MOUSINHO

 

Compositora fala sobre a carreira, revela ídolos, conta como nasceu o gosto pela música e as fontes de inspiração que rendem melodias que marcam histórias.

 

Vera Versiani é uma mulher apaixonada pelas palavras e pela melodia, capaz de produzir com cada uma delas. Se o amor por esse universo começou escutando, balbuciando e lendo, as composições surgiam ao cantarolar, no inventar das melodias. Gosto que vem da infância.
“Minha família é toda musical. Todo mundo canta, toca ou dança, mesmo leigamente. Estudei piano quando criança e violão na adolescência. Minha mãe praticamente me empurrou para a faculdade de Música. Sempre fui incentivada. Mas dei muitas voltas na vida até assumir a música como ganha-pão e a poesia como norte. Fiz Química e me especializei em Biofísica.”
E com tanta influência próxima, os primeiros passos foram tímidos, mas já com muito ritmo.
“Acho que sempre compus e não sabia. Mas é claro que adquiri mais domínio e consciência com o estudo de música e violão”, diz a compositora.
A primeira parceria foi com Cacau Leal. A canção “Coração Viajante” foi gravada pela própria Vera. Mas o número de composições é tão grande que foge das contas da autora.
“Não tenho ideia de quantas músicas fiz. Não sou organizada nesse âmbito. Vou fazendo e registrando em partitura ou gravando. Minhas parcerias mais frequentes são com Terezinha Vilela e Cacau Leal”.
Das canções que já fez, “Gosto de Fiandeiras de Minas” (com Cacau Leal) e “Morrendo de Medo” (com Terezinha Vilela), cantadas pelo grupo cênico-musical Eco do Santa Marta, são as preferidas de Vera Versiani.
A artista revela que gosta de todo o repertório, mesmo as canções que considera ruins. É porque cada uma tem uma história. Mas quando o assunto é compor uma nova canção, qual seria a receita?
“É preciso uma espécie de ‘dor no estômago’. Um ‘estar alegre ou muito triste’. Não é preciso nada, na verdade. Só vontade e sossego. Se o violão estiver ao alcance da mão, melhor. Se um estímulo social ou afetivo estiver atuando, melhor ainda. Muitos fatos e situações favorecem e incentivam a criação, mas não dependo rigorosamente deles para fazer música”, diz.
Mas para quem ficou com desejo de ter uma dica certeira, Vera nos revela suas fontes de inspiração:
“São a literatura, as artes plásticas, a fotografia, o cinema, a natureza, a vida, as gentes, não necessariamente nessa ordem”.
O impulso para cantar vem de dentro. Um lado que grita junto à compositora e que vibra a cada canção gravada.
“Cantar não é fácil. O instrumento do cantar é delicado e frágil, sensível e mutante. E até dependente. O cantar, a meu ver, depende continuamente de estímulos positivos de toda espécie e, principalmente, de silêncio. Mas também não posso parar de cantar, mesmo em situações adversas. Se ninguém canta ou grava minhas canções, sinto que eu mesma devo fazê-lo”, avalia.
Vera é formada pelo Instituto Villa Lobos da FEFIERJ - hoje Unirio - e atua também como professora de música, canto e violão.
“Como professora eu tive que acolher uma gama variadíssima de estilos musicais. Não tenho preconceitos. Mas tenho preferências. Por exemplo, o ‘Adagio Atemporal do Tim Rescala’ é de me matar de emoção. Lindo. De chorar. Esse tipo de coisa é o que mais gosto de escutar quando posso. É o que me traz paz e conforto. Às vezes me bota triste e melancólica, mas compenso procurando a companhia de crianças. A alegria volta correndo”, explica.
Sobre as referências da artista, ela diz quase em forma de poesia que são os corajosos músicos trabalhadores que nadam contra as correntes.
“Eles enfrentam toda ordem de dificuldades, atropelos e até hostilidades para se manterem fiéis a seu impulso artístico e talento jorrado das entranhas. Incluo aí pessoas diversas, como Eládio Pérez-Gonzalez (cantor magnífico, meu mestre), Tom Zé (compositor), Oswaldo Montenegro (cantor, compositor), Áurea Martins (cantora), Kiko Chavez (violonista, compositor), Cláudia Barcellos (violinista), Renato Aroeira (saxofonista) e por aí vai... Formigas incansáveis de nosso continente musical.
No mais, sou de geração tomjobiniana, com ecos onipresentes de Villa Lobos e Pixinguinha; geração que vivenciou a bossa nova e sua época e histórias; que sofreu o baque da ditadura que não conseguiu calar tudo o que queria, mas causou muito estrago. Minha geração estreou a calça jeans no Theatro Municipal e ouviu os sons inusitados e intrigantes dos laboratórios de música eletrônica, grupos de música aleatória, performances contemporâneas de ousadias inimagináveis. Isto me marcou”,
ressalta.
“Trilha sonora de uma vida? O silêncio já ocupa muito espaço. E é diferente o silêncio de uma ou de outra pessoa. Como apreciá-lo? Como aferi-lo? Como sustentá-lo?”  Vera Versiani.
O cineasta falecido Eduardo Coutinho aborda as músicas que marcam a vida através do filme “As Canções” e quem não tem uma música marcante?
“Não conheço quem não tenha uma música marcante em sua vida, uma canção que, como as ‘madeleines’ de Proust, traga uma lembrança forte, que emocione, que evoque cheiros e sabores, faça rir ou faça chorar.Tenho três canções que me marcaram em épocas e locais distintos: A Voz do Morro (Zé Kéti) - Rio de Janeiro - eu tinha cinco anos, Ilusão à Toa (Johnny Alf) - Belo Horizonte - eu era adolescente, Lovin' You (com Minnie Riperton) - em Birmingham, Inglaterra - onde vivi na década de 70”.
Sobre os talentos dessa nossa terra Vera diz que gosta de apreciar, não importa se coisa nova ou velha, se convencional ou com retoques de modernidade.
“Gosto, sobretudo, do ousado, do que provoca reflexões, do que contribui de alguma forma positiva para o processar das artes e do bem no mundo. A diversidade nos irmana e ampara. Acho bonito o canto de Roberta Sá, Mônica Salmaso e Elisa Addor, gosto do grupo Ordinarius, assim como de Terezinha Vilela, Vania Bastos, Marcos Sacramento, Marcio Lott, Ná Ozzetti, Alfredo Del-Penho... Um sem-fim de nomes. Somos privilegiados”.
Para o público da Revista Circuito nossa entrevistada deixa um abraço e cita Ariano Suassuna: "O sonho é que leva a gente para a frente. Se a gente for seguir a razão, fica aquietada, acomodada".

De um tudo, com Vera Versiani

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