Talentos
Artista plástico esculpe cocos, transforma aparelho de televisão em luminárias, pinta e encanta com a sua originalidade e simpatia
Disouza: o homem da arte de rua
MONIQUE JEAN
Antonio Ferreira de Souza (o artista plástico carismático e conhecido em toda a região como Disouza) tem 64 anos e é natural de São Paulo. Foi criado no interior de Mato Grosso do Sul, onde trabalhou até os 24 anos na roça ajudando a família. Foi ainda nesta época que a alma de artista começou a florir. “Observava o meu pai desenhar e aquilo me tocava. De forma meio tímida fui aprendendo a esculpir objetos e a transformá-los em artigos de decoração”, conta Disouza.Mas foi na cidade maravilhosa que ele decidiu que decolaria na carreira. O carioca de coração conta nesta entrevista que já produziu em toda a sua trajetória profissional cerca de cinco mil peças, e a arte dele está espalhada por casas de diversas partes do Brasil e até no exterior. Todos os dias nosso artista tem a mesma rotina: monta a bancada na rua Andrade Pertence, 42, e expõe as peças que ele cria, a maioria com material reciclado, e bonsais.
Circuito: Como foi o início da sua carreira no Rio de Janeiro?
Disouza: Eu pegava conchas na praia e fazia pequenas esculturas. Gosto de criar com a matéria-prima natural. Depois reflito e transformo em pequenos objetos.
Como você transforma os cocos em Corujas?
Disouza: Primeiro molduro o material, faço os corte e depois eu pinto.
Como você faz para arrumar a matéria-prima?
Disouza: Eu ganho sacos de cocos, alguns aparecem para mim de surpresa. Eu chego para montar a barraca e me deparo com aquele saco cheio de cocos. Engraçado que a pessoa não se apresenta de imediato, às vezes demora um pouco para eu saber quem foi a pessoa de bom coração.
Como é trabalhar na rua?
Disouza: É ótimo! Os clientes viram meus amigos. Aqui na rua eu cumprimento todos os dias os moradores. Essa troca me faz ter ideias novas para criar esculturas diferentes. Eu já recebi proposta para expor o meu trabalho em galerias. E analiso o que pode ser interessante. Mas o que eu gosto mesmo é de estar no meio do povo, trabalhar conversando, vendo. Sou grato pela a vida que eu tenho, e pelos amigos que eu fiz expondo meu trabalho aqui na rua.
Quais são as peças mais vendidas?
Disouza: As corujas feitas com coco têm muita saída, os bonsais também. O quadro da Lapa que mostra o Rio também sai bastante. Inclusive clientes da Inglaterra já levaram a minha obra. As maiores geralmente são compradas por empresários que querem decorar o estabelecimento. As luminárias são maiores e todos os detalhes foram feitos com muito cuidado, cada peça pequena que tem dentro da tv, cada pintura eu demoro algum tempo para fazer. Acho que esse cuidado transforma a minha arte em um belo objeto.
É difícil viver com o dinheiro que você recebe vendendo a sua arte nas ruas?
Disouza: Sim, é bem complicado viver somente com a renda que recebo. Mas o prazer que eu tenho em trabalhar com o povo já me é muito gratificante. Acredito que esse quadro vai mudar e as pessoas começarem a valorizar ainda mais. Digo isso não só pelo trabalho que produzo, mas também por todos os artistas que como eu, também da vendem seu trabalho para o povo.
Você aceita encomendas?
Disouza: Depende, mas é preciso analisar meu tempo e também saber se é viável. Mas nada que não possa ser conversado.
A arte de Disouza pode ser vista de perto.
O artista tem seu atelier no Catete, aberto de segunda a sexta, na rua Andrade Pertence, 42. Os telefones para contato são 2225-5134 e 98220-6293.