História

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Largo do Boticário: Abandono de dar dó 55.
Uma visionária paisagista e o Parque do Flamengo 54.
Cosme Velho, o rio Carioca e o nascimento da Cidade Maravilhosa
MARIA CLARA PECORELLI
Nesta edição continuaremos a pesquisa sobre os nomes dos logradouros de bairros do Circuito Largo do Machado. Quem fala em Cosme Velho, não pensa que é um bairro que nasceu com a cidade do Rio de Janeiro.
Desde o final do séc. XVI, após a fundação da cidade em 1565 por Estácio de Sá, a região foi se desenvolvendo ao longo do Rio Carioca, que emprestou seu nome ao habitante do Rio.
A história do lugar se confunde com as nossas tradições, como a doação de terras a famílias abastadas que as podiam tornar produtivas. As primeiras sesmarias foram doadas pelo rei de Portugal ou seus representantes à família de Cristóvão Monteiro, que logo edificou suas casas, fez suas plantações e até construiu um moinho de vento para moer os cereais colhidos. Depois, novos proprietário e chácaras foram surgindo.
No século XVII começou a regularização do abastecimento da cidade, com a captação das águas do Rio Carioca, durante muito tempo a principal fonte da cidade. No século XVIII este rio foi ramificado em direção à Lapa, onde se construiu um aqueduto, hoje famoso como os Arcos da Lapa, um dos ícones atuais da urbe maravilhosa.
Mesmo após a Independência, na época do Brasil Império, a força de trabalho permanecia escrava. Havia, então, escravos “agueiros”, que transportavam recipientes de água proveniente do rio Carioca, recolhida numa região mais alta do vale chamada de “Águas Férreas”, para os lares senhoriais. A nascente do rio fica no Silvestre, uma área de clima ameno e agradável, dentro da Mata Atlântica. Havia escravos para tudo, até para transportar para as águas do mar dejetos das residências em barris, respingando na roupa deles que eram chamados, por isso, de “tigres”.
Mas, os avanços foram chegando, como bondes, trens, luz e saneamento. E no Cosme Velho está situada a histórica Estação de Ferro do Corcovado, inaugurada ainda nos tempos imperiais (século XIX). Desta estação parte o trem que leva turistas até o pico do Corcovado, onde está a estátua do Cristo Redentor, símbolo máximo da cidade, o que faz da região uma atração turística.
No início do século XX o Rio Carioca foi coberto e canalizado, só deixando dois pontos a céu aberto: no Largo do Boticário, um lugar bem interessante com um conjunto de edificações em estilo colonial, infelizmente muito abandonado; e no Parque do Flamengo, onde deságua, na estação de tratamento.
Outro ponto turístico é a “Bica da Rainha”, na Rua Cosme Velho próximo ao Colégio São Vicente de Paula, fonte frequentada pelas rainhas Carlota Joaquina e Maria I, a Louca, no tempo de D. João, por acreditarem terem as águas propriedades medicinais.
E o nome? É uma homenagem a Cosme Velho Pereira, comerciante português que morou no bairro nos seus primórdios, atuante no então centro nervoso do comércio, a Rua Direita, hoje Rua Primeiro de Março, não por acaso referência à data de fundação da Cidade Maravilhosa.