Circuito da Palavra

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Um olhar sobre o tempo

WERBETH MOUSINHO

Com quase 65 anos, o odontologista Sérgio Arraes registra o tempo através da fotografia e dá uma lição de vida com sua própria história

 

O carioca Sérgio Arraes nasceu em 1948 na Tijuca, mas viveu em diversos bairros da zona Sul do Rio, até chegar ao Catete, onde mora há 25 anos. Como muitos jovens que viveram os anos de chumbo na política brasileira, lutou contra a Ditadura, viveu dramas pessoais com o álcool, mas superou sua dependência à bebida.

Depois de um acidente grave, encarou a morte e disse “não” a ela. E foi ironicamente (ou providencialmente) um Deus, que o até então socialista Sérgio ignorava, que lhe estendeu a mão e ofereceu uma vida nova.
Daí em diante, Arraes passou a ajudar os necessitados – é voluntário do Ambulatório São José, da igreja Nossa Senhora da Glória – e a si mesmo. Hoje tem na Fotografia a grande paixão, a que se dedica tanto para fazer Arte quando agir em prol do lugar onde vive. Com um acervo de mais de 50 mil fotos, guarda em casa muito da história e da beleza do Rio de Janeiro.
Mas é com um pouco de sua história pessoal que se tornou exemplo para muita gente, como você confere na entrevista a seguir.

 

Circuito: Houve um momento muito complicado em sua vida, mas que também foi o catalizador de uma grande virada.

Sérgio Arraes: Eu vivi uma época em que era moda beber e caí na bebida, como muitos de minha geração. Em 1990, sofri um acidente de carro que quase tirou minha vida. Ao passar por esse extremo, me internei em uma clinica de reabilitação. Eu decidi enfrentar o problema. Quando saí de lá, estava em uma vida nova. Eu havia nascido de novo. Nunca mais tive problemas com a bebida. Também nunca mais tive um carro (risos).
O que lhe causou - de mais importe - esse encontro com a morte?
Sérgio Arraes: Um encontro com a fé. Fiquei 47 dias achando que aquilo era apenas mais um 'barato' que eu estava vivendo. Foi quando comecei a questionar se realmente existiria um ser superior que me ajudava. Passei por todo o tratamento e aos 51 dias saí de lá com Deus.

Hoje você presta serviços voluntários. Seria uma forma de retribuir aquilo que você recebeu de Deus?

Sérgio Arraes: Sim, mas mesmo que eu não soubesse que Deus está ao meu lado, faria isso. É uma forma de agradecer e retribuir o que tive. Eu fiz uma faculdade grátis. 'Dar de graça o que recebeu de graça', é isso que faço.Ao longo de todo esse tempo de tragédias e mudanças, você já era um fotógrafo.

De onde surgiu esse amor pela Fotografia?

Sérgio Arraes: Foi um hábito engrandecido aos poucos. Meus pais fotografavam e as fotos eram nosso cotidiano. A fotografia sempre me preencheu naquilo que eu procuro de Arte.

E como é que sua fotografia contribui para melhorar o ambiente que você vive?

Sérgio Arraes: Entre tudo aquilo que faço com as fotos acho que a denúncia é a mais relevante do ponto de vista da ação. Eu estive recentemente na Casa de Rui Barbosa e fiquei triste com o que vi: os leões enferrujados, os corrimãos de madeira apodrecendo... Como eu fotografo a ação do tempo, é aquilo que procuro, mas para a arquitetura do local, isso é um desastre.

Sua denúncia é uma tentativa de mostrar o abandono de nosso patrimônio?

Sérgio Arraes: Sim. Foi o caso da árvore que caiu recentemente sobre o colégio Amaro Cavalcanti. Naquela rua passa muita gente, é onde acontece a feira livre. Muitos carros também foram atingidos. As fotos que fiz mostram os estragos e são um registro. Já imaginou se aquela árvore cai sobre uma pessoa?

Mas também há outro sentido para seu trabalho como artista da Fotografia.

Sérgio Arraes: Além da denúncia, eu volto minha atenção para o belo.Você tem uma relação muito prática com a região. É fiscal e admirador ao mesmo tempo.

Qual a essência dessa relação?

Sérgio Arraes: Sou mesmo um fiscal do lugar onde moro. Eu observo como um fotógrafo (mesmo quando não uso a câmera) e sei que é preciso tomar uma providência. Em cada metro que ando, vejo um problema que poderia ser resolvido. Tento não ficar alheio a isso.

De tudo aquilo que você passou em sua vida, dos problemas à superação, o que houve de mais importante para formar quem você é hoje?

Sérgio Arraes: Eu passei a gostar de mim mesmo, porque descobri Deus dentro de mim. Eu pude saber que existem várias portas e que você pode escolher o caminho. E sempre há um caminho melhor que o outro.

Descobrir a fé tem a ver com isso?

Sérgio Arraes: Você pode descobrir a fé pelo amor ou pela dor. Eu descobri pela dor.

Mas valeu a pena?

Sérgio Arraes: Sem dúvida. Nem se tivesse acontecido um dia antes ou um dia depois o resultado seria tão bom. Em 1º de maio de 1990 eu nasci de novo. E decidi não desperdiçar essa vida nova.

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praia do flamengo

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