Crônicas

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A mulher que falava pelo fio

FELISBERTO ANTONIO LÉO

cronicaquinzenal@gmail.com

Nasci numa época em que um telefone fixo levava até meia hora para dar linha, ou seja, o sinal para você discar para onde desejava falar.
Uma família inscrevia-se na Cia Telefônica Brasileira, esperava alguns anos e, com sorte, havendo disponibilidade, era instalado um telefone em sua casa. Aquele telefone, por ser da zona sul da cidade, jamais poderia ser levado para o bairro da Tijuca, por exemplo.
No meio dos anos sessenta, uma avalanche de ofertas, por parte das companhias estatais, lançou um “Plano de Expansão” e muitas pessoas, lá pela quinta prestação, já estavam com seus telefones em casa funcionando. Retirava-se do gancho e já dava linha. Ligava para um número de serviço e podia passar um telegrama fonado, sem sair de casa, com a maior comodidade. Para outro número, solicitava o serviço despertador para duas horas antes de uma importante viagem. Não havia falhas.
Os serviços foram sendo expandidos. Agora você ligava direto para sua tia em São Paulo ou a sua irmã em Recife, sem auxilio de uma telefonista. Para o exterior, também este serviço já estava ofertado diretamente ao usuário. 
Os seis números do seu telefone comercial ou residencial (existiam duas categorias), foram ampliados para sete, devido o aumento do fluxo de ligações. Via telefone, você poderia ligar o Fax e receber imagens de documentos, em preto e branco. Os serviços de telex, instalados para contatos comerciais, reservas de hotéis ou fechamento de negócios, estavam ligados ao mundo todo.
Num dia, na recepção de uma companhia de mineração onde trabalhei na praia do Flamengo 200, todos corriam para a recepção. Foi um alvoroço – havia lá um homem com feições de japonês que falava diretamente num “tijolo preto”, olhava para todos e respondia. Era um espanto. Meus colegas perguntavam: como pode?
Esta semana, decidi escrever este texto ao ver uma mulher de meia idade passando na roleta do ônibus e com as mãos soltas e mais de três metros de fios enrolados no pescoço falar do Largo do Machado até a avenida Presidente Vargas. De novo fiquei extasiado. Caramba, quanto assunto, muita gesticulação, enorme espanto no que a outra parte “sapecava nela”. Então lembrei toda evolução dos aparelhos de telefone fixos e de telex e mesmo dos abençoados orelhões que de graça recebiam pedidos de ajuda para a polícia, para os bombeiros ou para resolver uma questão de saúde.
Tudo ficou moderno. Hoje se manda arquivos de trabalho, mensagens para grupos, ou simplesmente as crianças no Japão ao entrarem na escola são monitoradas e os pais recebem um sinal: “seus filhos adentraram na escola”. Isto é importante, pois eles vão em grupos, desacompanhados. Pensei, viajei na presteza e utilidade deste aparelho e fixei os olhos na passageira. Como diz o garoto, meu vizinho: “caraça!, ela ainda está falando!

Rio de Janeiro, 1º de junho de 2017.  

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